18 novembro 2025 - 6:06
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Crônica — supernatural e o estranho conforto no inferno

(Não me julgue antes de ler, ou julgue… tanto faz)

Tem gente que encontra aconchego em meditação guiada, regando plantinhas na
janela ou passeando com o cachorro no parque. Eu, sinceramente, prefiro dois irmãos
dirigindo um Impala preto enquanto enfrentam vampiros, lobisomens, anjos, demônios,
a própria morte e traumas familiares.
Supernatural nunca tentou ser discreta. A série é uma feira mística onde mitologias do
mundo inteiro são jogadas no liquidificador junto com sarcasmo e rock clássico. E
funciona. De um jeito torto e incrível, funciona!
Dean e Sam não são apenas protagonistas; são uma dupla de tragicômicos tentando
salvar o mundo enquanto mal conseguem salvar a si mesmos. As brigas deles têm mais
camadas que bolo de casamento: afeto, culpa, ironia, promessas quebradas e aquele
jeito de irmão que xinga, mas puxa pelo colarinho quando vê o outro cair. Eu assisto e
penso: uma terapia familiar resolveria metade dos problemas deles. Mas quem disse
que a gente assiste para ver gente equilibrada?
Surgem então os coadjuvantes que roubam a cena sem pedir licença ou desculpas.
Castiel, o anjo com cara de servidor público esgotado, que se esforça para entender a
humanidade como quem tenta montar um móvel sem manual de instruções. E Crowley,
o demônio mais carismático que já pisou em um set. O sujeito é literalmente o rei do
inferno e, ainda assim, a gente torce por ele. Vai entender. Talvez seja o “Olá, garotos”,
dito como quem aparece na casa dos sobrinhos trazendo confusão e uma sacola de
presentes.
O humor da série é um caso à parte: referências, metalinguagem, episódios que zoam a
própria estrutura… e, no meio disso tudo, uma trilha sonora que dá vontade de colocar
uma jaqueta de couro e fingir que você caça monstros enquanto dirige um Impala preto
ao som de Carry on My Wayward Son. A música não acompanha a série; ela comanda
a cena. Rock’n’roll como deve ser: sujo, barulhento e cheio de personalidade.
No fundo, Supernatural não é sobre caçar monstros. É sobre família e enfrentar os
próprios demônios — mas não do jeito piegas que tantas histórias entregam. É sobre
vínculos improváveis, promessas difíceis e o tipo de lealdade que sobrevive ao
apocalipse e ao inferno. E quando o episódio termina, fica aquele vazio leve, como se
você tivesse saído de um bar onde os frequentadores são meio problemáticos, mas
estranhamente acolhedores.
Talvez Supernatural seja menos uma série e mais um vínculo emocional: confuso,
barulhento, cheio de monstros, mas com gente que fica ao nosso lado mesmo quando a gente já teria desistido de si. E isso, convenhamos, é um efeito que poucas séries
conseguem.

Por Sarah Bruning Ascari — psicóloga cansada, colunista acidental e caçadora
profissional de demônios imaginários.
�� Contato: sahbruning@gmail.com
Aceito propostas, críticas construtivas e cafés.
Só não vale pirâmide financeira e spam (a não ser que venham com boletos pagos).

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