Toda família tem suas tradições.
Tem as que discutem política, as que brigam pelo último pedaço do pudim e as que fingem não ouvir o tio desafinado cantar “Evidências”.
A família Ascari, não satisfeita com nenhum desses clássicos, decidiu fundar uma banda de rock. Porque, claro, o mundo realmente precisava de uma banda que nasceu entre uma garfada de maionese e um copo de refri quente.
Foi num almoço de domingo qualquer, entre a lasanha e o “qual vai ser o nome da banda?”, que veio a epifania.
— E se o nome fosse Neca?
Silêncio.
Olhares cruzados.
E, de repente, um coro uníssono: “É ISSO!”.
A homenagem à avó Nercy — ou Dona Neca, a matriarca que, sem saber, acabaria virando nome artístico — virou bandeira.
O almoço virou brainstorm, e o som da família começou a ecoar além da mesa de domingo (pro azar dos vizinhos).
Assim nascia a Neka — com K, porque no rock até as vogais precisam de atitude (e a geração Z já patenteou a letra).
Daniel — meu irmão mais novo, o baixista que nunca ficou quieto um minuto sequer — se juntou ao meu primo Caio, vocalista com carisma o suficiente pra convencer até o Spotify a cantar junto.
No ritmo, o jovem diplomata Léo Bianchini Philippi segurava as baquetas, enquanto o guitarrista João chegou de última hora e salvou o primeiro show de virar um acústico MTV não intencional.
O novo baterista, Leo (sim, aparentemente se chamar Leo é pré-requisito pra tocar bateria) entrou depois pra manter o caos sincronizado — ou quase.
Missão digna de herói de guerra.
Os integrantes da banda vivem na região sul de SC, mais conhecida como AMUREL — um lugar tão interior que o maior engarrafamento ainda acontece quando uma vaca decide atravessar a rua, onde o som da guitarra disputa espaço com o mugido das vacas, mas a vibe é internacional.
O primeiro ensaio foi em janeiro de 2024: dez músicas, uma sala pequena e o tipo de entusiasmo que faria o cachorro da vizinha pedir protetor auricular.
Quadro meses depois, a estreia — palco em São Ludgero, diante de cerca de 1.500 pessoas.
Sim, mil e quinhentas.
No primeiro show.
Tem cantor por aí que não junta nem a turma do churrasco, e esses doidos resolveram estrear diante de uma cidade inteira.
Ninguém errou a letra, o amplificador sobreviveu, o público pediu bis — e vó Neca provavelmente rezou em silêncio por todos.
Milagre? Talvez.
Mas talento também ajuda.
De lá pra cá, a Neka já passou por bares, festas, trio elétrico, formaturas e até evento acadêmico na FUCAP — porque em qualquer lugar cabe um bom solo de guitarra.
O som da banda é aquele mix de rock, indie e reggae que faz qualquer playlist parecer um rolê de fim de tarde com gente que sabe aproveitar o caos.
A arte deles não pede licença: invade, vibra e deixa um rastro de emoção (e de cerveja) no caminho.
Mas o mais bonito nessa história é o fio que amarra tudo: família, som e uma boa dose de insanidade genética.
Cada acorde é uma lembrança.
Cada música tem cheiro de almoço de domingo disfarçado de ensaio.
E cada show é uma prova viva de que amor e barulho são as duas línguas oficiais dos Ascari.
Então, se o mundo anda burocrático e cinza demais, a Neka é o lembrete de que ainda vale juntar gente boa, um baixo bem afinado (sim, vou babar ovo, é pra isso que irmã mais velha serve) e um sonho compartilhado.
O rock nasceu pra isso: fazer barulho, criar memórias e provar que o amor — com microfone ou sem — sempre dá show.
E quem sabe, num futuro não tão distante, Dona Neca não suba ao palco pra um solo de panela?
Formação (não de quadrilha):
Daniel Bruning Ascari – Baixo
Caio Michels Ascari – Vocal
João Luiz Martins – Guitarra
Leo Ramos – Batera
📩 Contato: nekacontato@gmail.com
📸 Instagram: @bandaneka
🎶 Ouça: https://open.spotify.com/playlist/7Gy7oAk95wZvoWQ3wyMvWL?si=79a2d8dfc0c0484f
Por Sarah Bruning Ascari — psicóloga, colunista e cúmplice emocional de dois doidos da banda Neka.
📩 sahbruning@gmail.com
Aceito propostas, críticas construtivas e cafés.
Só não vale pirâmide financeira e spam (a não ser que venham com boletos pagos ou com ingresso pro próximo show).































